Cap. 233
Augustus se prepara para virar a página do diário e dar continuidade à sua leitura, mas decide espiar seu relógio antes. Sorte de Cobre Traiçoeira, afinal, duas horas se passaram e chegou a vez dos delegados trocarem de lugar.
Após um suspiro de frustração, Augustus fecha o diário, levanta, se espreguiça e ouve do já impaciente outro delegado:
— Pare de enrolar. É sua vez, venha logo.
Augustus, olhando pela portinhola: — Pelo jeito ainda vai demorar até o sol aparecer.
Cobra: — Mais quatro ou cinco horas.
Augustus: — O que será que os tais Windigos ficam fazendo lá fora, nesse frio e escuridão?
Tex: — Talvez dormindo felizes, já que nenhum filho de um jumento fica falando ao lado deles.
O delegado entende o recado e se cala, permitindo que os outros repousem e que seu corpo, agora não mais entretido pela leitura, também comece a dar sinais do cansaço após as horas de perseguição e os momentos de fuga.
O silêncio não é uma boa companhia para Augustus, talvez por isso ele fale tanto. Ficar sozinho com seus pensamentos não é tão ruim, o problema é quando chegam as lembranças.
Primeiro chega Nokomis, o olhar sem vida e o corpo já gelado sumindo na neve.
Depois vem Mingmei, com as facas de Dimitri fincadas no peito e garganta.
O delegado abre a portinhola em busca de um pouco de ar gelado e talvez algo que possa olhar e afastar as imagens, mas tudo o que encontra é uma parede negra e silenciosa que o encurrala com suas memórias.
Parece que o grande artista de fugas finalmente ficou sem saída, confinado com um maluco que quer matar todos na cabana e cercado por selvagens que também querem matar todos na cabana (e comer! acrescentaria Nokomis).
Talvez seja possível escapar, ele é bom nisso, um artista de fugas, mas, desta vez, não basta fugir.
É preciso salvar Sarah e Cobra Traiçoeira também. E, se possível, até mesmo Tex.
Augustus olha o relógio para ver quanto tempo falta até a próxima troca de vigia e descobre que se passaram apenas oito minutos desde que seu turno começou.
